Era uma vez uma menina...

Era uma vez...

Porque todas as histórias começam com um "Era uma vez"...

Era uma vez uma menina cheia de sonhos que apanhou o expresso para uma aventura de 4 anos!

Uma menina de 17 anos que se mudou de malas e bagagens para uma nova cidade, no Alto Alentejo, onde não conhecia NADA nem ninguém.

Uma menina inocente, timida, menina dos papás que, nunca tinha sido saído debaixo da asa dos mesmos.

Foram tempos dificeis!

Muita lágrima correu, muito medo sentiu, muitas dificuldades enfrentou...

Filha única, viu-se a partilhar o quarto com duas pessoas desconhecidas...

Felizmente, situação temporária até dividir apenas o espaço com uma pessoa desconhecida, mas muito acolhedora, simpática, preocupada e, com um sotaque inesquecível ;)

Era, ela, sem dúvida quem amparava as quedas, quem ouvia os desabafos, quem tirava os óculos quando a menina adormecia a ver TV....

A menina teve de aprender a dividir o quarto, o roupeiro, o lavatório, a janela, o aquecedor, a casa de banho, a cozinha, a prateleira do frigorifico, o espaço na arca congeladora e, o micro-ondas!
Sem contar que tinha de dividir o mesmo piso com outras 19 pessoas...

Não era uma casa... era uma residência de estudantes!

Era uma vez uma menina que tinha um sonho: ser educadora de infância!

Para isso a menina teve de conhecer uma cidade totalmente diferente da sua, uma cidade fantasma ao fim de semana e, cheia de vida nas noites de quinta feira!

Uma cidade que metia respeito quando, nas noites de nevoeiro, não se via nenhuma alminha pela rua.

Uma cidade que a menina desejava sair rapidamente.

As sextas feiras eram os dias mais felizes... quando às 17h a menina e as colegas saiam a correr da aula de Língua Portuguesa e, desciam a chamada "Rua do Comércio" com um brilho nos olhos e um sorriso na boca, até à rodoviária, onde apanhavam o Expresso das 17h30 com destino a Lisboa!

Os domingos eram os dias mais infelizes de toda a semana... Principalmente no dias de frio e chuva. A menina apanhava o expresso das 18h que chegava perto das 22h à cidade que a acolheu, mas que por motivos óbvios ela não gostava!

O primeiro ano passou e, a menina tentou pedir transferência para perto de casa...sem sucesso.

Voltar após as férias do Verão foi um golpe cruel... A menina desfez-se em lágrimas e dizia aos pais que não queria ficar ali. Os pais disseram-lhe que ficava uma semana e, depois logo se via... A menina disse que ficava e, que sabia que aí era para seguir em frente, mesmo que contrariada.

Era uma vez uma menina cheia de sonhos: ser educadora de infância, despachar o curso e, casar com o seu amor.

Foram 4 anos de namoro à distância... A menina e o menino começaram a namorar dias antes de sairem os resultados das faculdades.

A menina tinha todos os sonhos do mundo e, arriscou a ir para longe de tudo e todos.

O menino também sempre aplicado, estudava e trabalhava ao fins de semana no supermercado para poder tirar a carta de condução.

A menina lá longe não gostava da noite, não gostava de sair, não gostava de andar sozinha na rua com medo!

Dois seres aplicados nos estudos e na relação, mesmo que, à distância!

Era uma vez uma menina que se mentalizou que seria ali que iria tirar o curso, que era ali que ia ganhar amizades verdadeiras, que era ali que ia, pelo menos tentar, ser feliz!

Tantos sonhos, tantas angústias, tantas gargalhadas, tantos disparates, tantos trabalhos, tantos serões, tantos jantares, tantas "discussões", tantos momentos, tantas horas, tantos silêncios que foram partilhados com as, então, amigas.

Pessoas de diferentes partes do país ricas em sabedoria, em ternura, em amizade, compaixão e, entreajuda.

Um dia a menina torceu o pé e, uma das amigas ofereceu-lhe a cama, a casa, o seu espaço para ela não ter de andar de autocarro e afins sozinha.
Grandes gestos, grandes corações, grandes paixões, mas essencialmente, grandes amizades!

Era uma vez uma menina quase a concretizar os seus sonhos...

Se para a menina os dias, horas e minutos demoravam a passar... quando chegaram os últimos dias naquela cidade, que até então, ela ansiava abandonar, tudo ficou diferente no coração da menina.

A menina que "caiu" ali com 17 anos, já era uma mulher com 21 anos.

Já se tinha habituado aquela cidade, aos autocarros, aos táxis, aos serões a estudar ou a fazer planificações, às comidas no refeitório, às tostas do 2 em 1, à partilha do quarto com várias pessoas diferentes, a aquecer a sopa congelada que a mãe lhe mandava, aos fins de semana a estudar, às noites de quinta feira a dormir na casa das amigas para, quando dava, apanharem o expresso das 6h30 da manhã e, o principal, a não depender de ninguém.
No fundo, a menina tinha crescido, tinha ganho "calo" de muitas coisas, tinha guardado os seus medos bem lá no fundo, tinha respondido a professores e partilhado as suas emoções (quando ninguém o esperava que fizesse)!

E, de repente, a menina queria que o tempo parasse, que tivesse mais uns dias com a suas amigas, que partilhassem mais emoções juntas...
Afinal, sabia bem que a partir daquele momento, cada uma seguiria a sua vida, que nada mais voltaria a ser o mesmo, que todas as promessas de reencontros não seriam, na maioria, cumpridas, que cada uma ia lutar por um lugar no mundo do trabalho e, que as conversas apenas seriam casuais...

Era uma vez uma menina que cumpriu o sonho de ser educadora, que casou com o seu amor, mas que trocaria muita coisa por mais uns momentos naquela cidade que tanto odiava, com aquelas pessoas que tanto gostava!

2004-2008




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