Querida avó...
Sempre tive orgulho em chegar aos 30 anos e, ser abençoada com os meus 4 avós vivos.
Sempre me senti privilegiada por a minha filha conhecer os 4 bisavós.
SEMPRE tive medo que chegasse este dia. O dia em que um dos meus avós partisse...
Sabes avó, ainda penso que tudo não passa de um pesadelo... que quando for ao Alentejo lá estarás tu na cozinha com o teu avental (que eu adorava desapertar), com montes de tachos e pratos à tua volta.
Ou então, que ainda vou ali à residência onde passaste os últimos 17 dias de vida, e ajudar a dar-te o almoço, dar festinhas, ajudar-te a beber água...
Ninguém estava à espera que em 46 dias (desde a tua primeira operação) tanta coisa mudasse.
Sabes... tive um pressentimento que nos ias deixar naquele dia... mas são aqueles pressentimentos que tentamos afastar, que fingimos que não sentimos...
No dia anterior já te tinha visto muito em baixo, estavas com as mãos tão frias avó... Ainda te tapei para ver se as aquecias... Disseste-me que o que querias era dormir para sempre... Já o tinhas dito na terça feira que não estavas cá a fazer nada, que não tinhas forças... Só "ralhava" contigo e dizia que não te queria a dizer aqueles disparates, que te dava uma palmada se continuasses com aquelas conversas... Que tinhas era de comer para ganhar forças e voltar a fazer coisas que fazias. Lembraste minha magrela? Estavas tão magrinha, como nunca te tinha visto, pele e osso... Fiz-te prometer que ias comer para ficares mais forte... mas não conseguiste cumprir não é?
Eu sei que estavas a sofrer, que te viste acamada e eras toda independente, que estavas longe do avô (que apesar de andarem sempre ás turras eram a companhia um do outro há mais de 60 anos), no fundo não estavas feliz, mesmo connosco ao pé de ti...
Sei que não tiveste força avó, apesar de querermos que tivesses, sofreste por perder a independência e sofreste por amor por estar longe do teu companheiro de vida...
Agora fica a saudade, fica a dor, fica o desamparo...
Já não vou ter as minhas torradinhas feitas na frigideira nas férias (que não há torradinhas iguais em lado nenhum), as minhas lulas e polvos que fazias questão de comprar, arranjar e congelar para quando fossemos a tua casa nos mandares para a nossa casa, não vamos à horta apanhar figuinhos (que tu tanto gostavas) e ver os frutos que começavam a crescer nas àrvores... Os teus passarinhos já devem estranhar não ter o arrozinho que tu, com tanto amor, preparavas para eles...
Sei que eras muito feliz quando te visitávamos, quando passavámos as férias na tua casa... As tias sempre nos disseram que tu eras feliz nestas alturas. Fico de coração cheio em saber isso...
Nunca me importei com o cheiro a naftalina (vou sempre associar a ti claro), com colchões com molas partidas... o que queria era aproveitar o tempo contigo e, que a Sofia também guardasse memórias contigo. Felizmente, escolhi um marido que se tornou um neto 5 estrelas para ti e, com o qual te preocupaste sempre até aos últimos dias e, que também não se rala com pormenores...
Sabes que gostamos MUITO de ti... Minha malandreca...
Agora guardamos as boas memórias no coração mas sabes... dói tanto saber que já não estás aqui... que não te vou ouvir mais ao telefone...
Nunca foste muito de grandes afetos. Não eras de dar abraços e, os beijinhos eram rápidos.
Nestes últimos tempos davas beijos e mais beijos... Mas na quinta feira já só tiveste força para dar dois...
Sabes... nunca tinha visto o avô a chorar... Preferia não ter visto que era sinal que continuavas cá connosco.
O avô trouxe-te no dia 8 de Março numa ambulância e levou-te no dia 24 de Março na carrinha funerária... O que ele chorou avó... Nunca o tinha visto expressar sentimentos por ti e, foi muito duro... Ele sente tanto a tua falta...Ele disse-nos que o pior é ir deitar-se e saber que agora já não voltas mesmo. Quando estavas no Lar ainda tinha a esperança na tua recuperação para poderes voltar para casa... Mas também sei que agora estás a olhar por ele e, estás com ele mesmo que não seja fisicamente.
O meu pai também está desfeito... mas esperaste por ele para poderes partir descansada.
Nunca me vou esquecer da imagem dele a despedir-se de ti no cemitério...
Foi um dia terrível avó...
Fiquei sempre a olhar para ti na esperança que voltasses a respirar... Mas não voltaste...
Agora tem juizinho ai no céu e, nada de "abanar" muito o capacete como te dizia ali no lar...
O que me descansa é que agora voltaste a ter as duas perninhas e, podes passear para onde quiseres como se fosse magia...
Agora és a estrelinha mais brilhante que há no céu e, sei que agora estás a descansar e a olhar por nós.
Hoje a Sofia estava na cozinha com um caderninho dela e, começei a ouvir "A avó Linda é uma estrelinha que brilha brilha. A avó Linda tinha um dói dói muito grande e agora está no céu. Gosto de ti, vou gostar para sempre."
Faço dela as minhas palavras, mas acrescento um OBRIGADA por tudo o que fizeste por nós, por tudo o que fizeste por mim... Nunca me vou esquecer de jogarmos na raspadinha, de irmos ao parque,de irmos ao Jumbo comprar colares (falaste nisso quando estavas no hospital), de jogarmos ás raquetes à porta de tua casa, de apanharmos caracóis, do Ucal que me compravas para o lanche e, dos almoços que fazias SÓ para mim: batata frita, salsichas e ovo estrelado.
Juizinho e Dorme bem querida avó...
Sempre me senti privilegiada por a minha filha conhecer os 4 bisavós.
SEMPRE tive medo que chegasse este dia. O dia em que um dos meus avós partisse...
Sabes avó, ainda penso que tudo não passa de um pesadelo... que quando for ao Alentejo lá estarás tu na cozinha com o teu avental (que eu adorava desapertar), com montes de tachos e pratos à tua volta.
Ou então, que ainda vou ali à residência onde passaste os últimos 17 dias de vida, e ajudar a dar-te o almoço, dar festinhas, ajudar-te a beber água...
Ninguém estava à espera que em 46 dias (desde a tua primeira operação) tanta coisa mudasse.
Sabes... tive um pressentimento que nos ias deixar naquele dia... mas são aqueles pressentimentos que tentamos afastar, que fingimos que não sentimos...
No dia anterior já te tinha visto muito em baixo, estavas com as mãos tão frias avó... Ainda te tapei para ver se as aquecias... Disseste-me que o que querias era dormir para sempre... Já o tinhas dito na terça feira que não estavas cá a fazer nada, que não tinhas forças... Só "ralhava" contigo e dizia que não te queria a dizer aqueles disparates, que te dava uma palmada se continuasses com aquelas conversas... Que tinhas era de comer para ganhar forças e voltar a fazer coisas que fazias. Lembraste minha magrela? Estavas tão magrinha, como nunca te tinha visto, pele e osso... Fiz-te prometer que ias comer para ficares mais forte... mas não conseguiste cumprir não é?
Eu sei que estavas a sofrer, que te viste acamada e eras toda independente, que estavas longe do avô (que apesar de andarem sempre ás turras eram a companhia um do outro há mais de 60 anos), no fundo não estavas feliz, mesmo connosco ao pé de ti...
Sei que não tiveste força avó, apesar de querermos que tivesses, sofreste por perder a independência e sofreste por amor por estar longe do teu companheiro de vida...
Agora fica a saudade, fica a dor, fica o desamparo...
Já não vou ter as minhas torradinhas feitas na frigideira nas férias (que não há torradinhas iguais em lado nenhum), as minhas lulas e polvos que fazias questão de comprar, arranjar e congelar para quando fossemos a tua casa nos mandares para a nossa casa, não vamos à horta apanhar figuinhos (que tu tanto gostavas) e ver os frutos que começavam a crescer nas àrvores... Os teus passarinhos já devem estranhar não ter o arrozinho que tu, com tanto amor, preparavas para eles...
Sei que eras muito feliz quando te visitávamos, quando passavámos as férias na tua casa... As tias sempre nos disseram que tu eras feliz nestas alturas. Fico de coração cheio em saber isso...
Nunca me importei com o cheiro a naftalina (vou sempre associar a ti claro), com colchões com molas partidas... o que queria era aproveitar o tempo contigo e, que a Sofia também guardasse memórias contigo. Felizmente, escolhi um marido que se tornou um neto 5 estrelas para ti e, com o qual te preocupaste sempre até aos últimos dias e, que também não se rala com pormenores...
Sabes que gostamos MUITO de ti... Minha malandreca...
Agora guardamos as boas memórias no coração mas sabes... dói tanto saber que já não estás aqui... que não te vou ouvir mais ao telefone...
Nunca foste muito de grandes afetos. Não eras de dar abraços e, os beijinhos eram rápidos.
Nestes últimos tempos davas beijos e mais beijos... Mas na quinta feira já só tiveste força para dar dois...
Sabes... nunca tinha visto o avô a chorar... Preferia não ter visto que era sinal que continuavas cá connosco.
O avô trouxe-te no dia 8 de Março numa ambulância e levou-te no dia 24 de Março na carrinha funerária... O que ele chorou avó... Nunca o tinha visto expressar sentimentos por ti e, foi muito duro... Ele sente tanto a tua falta...Ele disse-nos que o pior é ir deitar-se e saber que agora já não voltas mesmo. Quando estavas no Lar ainda tinha a esperança na tua recuperação para poderes voltar para casa... Mas também sei que agora estás a olhar por ele e, estás com ele mesmo que não seja fisicamente.
O meu pai também está desfeito... mas esperaste por ele para poderes partir descansada.
Nunca me vou esquecer da imagem dele a despedir-se de ti no cemitério...
Foi um dia terrível avó...
Fiquei sempre a olhar para ti na esperança que voltasses a respirar... Mas não voltaste...
Agora tem juizinho ai no céu e, nada de "abanar" muito o capacete como te dizia ali no lar...
O que me descansa é que agora voltaste a ter as duas perninhas e, podes passear para onde quiseres como se fosse magia...
Agora és a estrelinha mais brilhante que há no céu e, sei que agora estás a descansar e a olhar por nós.
Hoje a Sofia estava na cozinha com um caderninho dela e, começei a ouvir "A avó Linda é uma estrelinha que brilha brilha. A avó Linda tinha um dói dói muito grande e agora está no céu. Gosto de ti, vou gostar para sempre."
Faço dela as minhas palavras, mas acrescento um OBRIGADA por tudo o que fizeste por nós, por tudo o que fizeste por mim... Nunca me vou esquecer de jogarmos na raspadinha, de irmos ao parque,de irmos ao Jumbo comprar colares (falaste nisso quando estavas no hospital), de jogarmos ás raquetes à porta de tua casa, de apanharmos caracóis, do Ucal que me compravas para o lanche e, dos almoços que fazias SÓ para mim: batata frita, salsichas e ovo estrelado.
Juizinho e Dorme bem querida avó...
Os meus sentimentos miúda!!!
ResponderEliminarMas acredita que, se o amor era assim tão grande, ela agora estará ainda mais perto de ti...
E se duvidares, olhas para o céu e verás...
Um beijinho*
Obgd Martinha:) Beijinhos às duas ;)
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