O que não dá jeito saber das educadoras...
Natal: Altura do ano em que os queridos papás se lembram das educadoras e respetivas auxiliares...
Sim, só há duas datas no ano em que os papás se lembram destes "seres": o Natal (em que fica sempre bem dar um chocolatinho ou algo do género, mesmo que não vão com a cara das personagens, um docinho pega sempre bem para dizer aos amigos que deram) e, o final do ano letivo (em que finalmente vem um elogio que nunca chegou ao longo de vários meses de árduo trabalho com os respetivos filhotes).
Pois é, eu, como educadora (apesar de no momento não estar no ativo) venho partilhar um pouco da minha experiência nesta profissão que se resume " a tomar conta dos filhos dos outros", ou então não...
Quando tiramos o curso apanhamos todo o tipo de educadora nos estágios:
- Aquela que é uma porreira, que acha que tudo o que fazemos está bem feito, dá-nos umas dicas e no fim so estágio até diz "não vos dou nota mais alta porque não nos deixam" (a sério isto aconteceu mesmo!!!);
-Aquela que "puxa" até demais pelos miúdos na parte intelectual mas que depois a parte do carinho (o que é isso???) fica de lado e, os momentos que existem é só para "inglês" ver;
-Aquela que não queres de todo ser! A que grita constantemente com os miúdos, que faz trabalhinhos muito engraçados mas que nem os miúdos participaram (só servindo para enfeitar a sala), que dá palmadas no rabiosque dos miúdos porque fizeram xixi na cama (sem comentários) e, que todas as atividades que fazes com as crianças não estão bem, nunca estão perfeitas (haja paciência).
Acabamos o curso e lá começamos à procura de emprego, esta área "terrível" é tão bem remunerada que nem sabemos para onde nos virarmos com tantas "boas" opções. 600€ e é se queres, senão vem outra que queira...Sim, há lugares que pagam bem, é verdade, e que nos valorizam mas... poucos!
E depois os pais pensam "mas também só para brincar com eles, cantar umas canções, limpar-lhes os rabiosques e ajudá-los a comer, está muito bom". NÃO!
Vejamos: as educadoras têm de fazer planificações (ou devem) semanais tendo em conta os objetivos a serem atingidos, consoante a idade das crianças, o tipo de grupo, entre outros. No fim do ano letivo, temos (ou devemos) de entregar aos papás as respetivas avaliações.
Os nossos dias resumem-se assim:
Começamos a manhã com a canção do bom dia, com outras que gostem, com novidades, por vezes uma história e, passamos à explicação da atividade a ser desempenhada (no meio disto tudo que se resume a 15/30 minutos somos interrompidas umas 3 vezes, por meninos que chegam depois da hora idealizada por nós para começarmos a trabalhar).
Passamos à atividade e, no meio de alguns choros ou mini zangas, por alguém que quer ser o primeiro a fazer o trabalho ou por alguém que não quer partilhar o jogo, também temos de mudar fraldas ou levar as crianças ao WC (apesar do xixi ser antes de começar a trabalhar, rara será a vez que não temos de levar alguém ao trono). Atividade feita, um bocadinho de brincadeira antes de dizermos para arrumarem a sala e formarem o belo do comboio para lavar as mãos.
Almoço: aquele momento em que ou corre tudo bem, ou começamos com sopas entornadas, ou um vomitado, ou uma diarreia, ou uma simples birra para não comer!
Vamos lá lavar as mãos e bocas e, cama.
Nas horas da sesta (sei que há quem durma também) escrevemos cadernos para os papás saberem o que os seus rebentos andaram a fazer, que tipo de atividade fizemos e, ainda colocamos fotos a exemplicar (sendo que por vezes não servem de nada, porque os papás deixam os meninos estragarem :s). Também damos miminho e colinho a quem por alguma razão não consegue adormecer (o que por vezes acontece por chegarem tarde à escola).
Acordamos as crianças e, fraldas ou sanitas , ou fraldas E sanitas (e quando a auxiliar está de férias ou teve de faltar... ui a ginástica que é).
Lanche: novamente aquele momento em que ou corre tudo bem, ou começamos com iogurtes/leites entornados, ou um vomitado, ou uma diarreia, ou uma simples birra para não comer!
Brincadeira livre ou finalização de trabalhos: aquele momento em que há dias que já contas os minutos para sair.
Hora da saída: se tens filhos ainda tens a saga dos segundos lanches, dos banhos, do brincar um bocadinho, do fazer o jantar, arrumar a cozinha, lavar dentes, contar a história, colocar soro, creme e baton no Inverno, beijinho de boa noite e, visualizas o teu amado sofá... afinal não porque decides adiantar umas atividades, fazer umas pesquisas...
Se não tens filhos chegas a casa lanchas qualquer coisa, tomas banho, fazes o jantar e, vais trabalhar! Quando não se tem filhos achamos que temos de estar sempre à frente no trabalho.
O que os papás vêm???
Uma pessoa simpática, educada e, geralmente, com um sorriso na cara. Quando não somos tão bem educadas, simpáticas ou se não temos um largo sorriso, já nos perguntam o que se passa e, o porquê de estar assim...
Uma pessoa simpática, educada e, geralmente, com um sorriso na cara. Quando não somos tão bem educadas, simpáticas ou se não temos um largo sorriso, já nos perguntam o que se passa e, o porquê de estar assim...
Isto quando não vão logo meter "macaquinhos" na cabeça dos patrões com suposições...
No meio desta rotina toda ainda temos de ver e ouvir coisas que não podem, de todo, chegar aos ouvidos dos papás, senão JÁ FOSTE.
"Sabe só não a despeço porque não posso" (a maldita indemnização que não dá mesmo jeito e, a falta de argumentos válidos). Mas se desses o corpinho ao manifesto, já mudava de ideias.
Quando a estupidez (que não tem outra designação possível) leva alguém a partir douradinhos aos bocadinhos para não ter de dar um douradinho inteiro a uma criança de 3 anos e, assim fazer, literalmente, render o peixe.
Quando alertas para que a sopa está azeda mas que segundo a estupidez não está de todo azeda e, tens de dar às crianças menos à respetiva (porque será???).
Quando te pedem para dar iogurtes de soja a uma criança pois desconfiam que tem intolerância à lactose e, como é óbvio não dás e, tens de mentir aos papás sobre isso.
Quando ao lanche dás pãozinho descongelado e, iogurtes fora do prazo (porque ainda estão bons).
Quando te proíbem de escrever no caderno a ementa do dia pois, por vezes, repetiam do dia anterior.
Quando te insultam verbalmente e tens de engolir.
Quando a auxiliar, simplesmente, ignora os teus pedidos.
Quando a auxiliar pensa que é a responsável da sala e, tenta "passar" por cima de ti.
Quando tens de ficar sozinha na sala com 10-20 crianças, porque a auxiliar faltou, está de férias ou porque tem de acompanhar as crianças a atividades fora da escola e,os patrões não querem contratar mais alguém para tapar esses furos (neste caso as estagiárias são ótimas pois a empresa não tem qualquer custa com elas).
Quando a criança aparece arranhada e, a culpa vai para cima da educadora (pois é a responsável da sala).
Quando a auxiliar, simplesmente, ignora os teus pedidos.
Quando a auxiliar pensa que é a responsável da sala e, tenta "passar" por cima de ti.
Quando tens de ficar sozinha na sala com 10-20 crianças, porque a auxiliar faltou, está de férias ou porque tem de acompanhar as crianças a atividades fora da escola e,os patrões não querem contratar mais alguém para tapar esses furos (neste caso as estagiárias são ótimas pois a empresa não tem qualquer custa com elas).
Quando a criança aparece arranhada e, a culpa vai para cima da educadora (pois é a responsável da sala).
Quando tens papás que te rebaixam o máximo que podem e, os patrões não defendem com medo da reputação da escola...
E é isto...e muito mais...
Daí estar, literalmente, a dar um tempo à minha atividade profissional que tanto AMO e que tanto prazer me dá.
Neste momento, o que faz sentido é aproveitar ao máximo a minha princesa, a minha família e, repensar muito bem tudo o que passei.
Não digo que seja em todo o lado assim (ainda bem que não), mas todos sabemos que cada empresa tem os seus podres.
Não somos nenhumas coitadinhas, só gostava que valorizassem mais o nosso esforço e dedicação (felizmente tenho algumas pais que serão sempre especiais, por todo o apoio e carinho que me deram sempre ao longo dos anos que exerci esta profissão).
Por isso já sabem... olhem para a educadora dos vossos filhotes com "olhos de ver" e, não se lembrem dela só no Natal ;)
Parece-me que reconheço esse "lugar" que tanto trauma te causou... Acredita que também eu, nunca mais fui a mesma! :(
ResponderEliminarE, mesmo amando a profissão que tinha, achei que sair da área era o melhor... está tudo a caminhar para o mesmo! Pena...
Beijinho,
Marta Cunha
Beijinho Martinha ;)
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